RN é campeão em captação, mas deficiente em transplantes de órgãos
13/02/2012 15:11
RN é campeão em captação, mas deficiente em transplantes de órgãos
Maiara Felipe, do Diário de Natal
O Rio Grande do Norte está entre os campeões da captação de órgãos no Brasil. O estado registrou 15,5 doadores Por Milhão de População (PMP) em 2011, meta prevista para o país em 2015 e bem acima dos 11,4 doadores PMP conseguidos nacionalmente. Atualmente é o quarto do país, perdendo somente para Santa Catarina, Ceará e São Paulo. Resultado de um trabalho social que vem sendo bem desenvolvido pela Central de Transplantes. Porém, os potiguares vivem uma situação dúbia. O benefício dessas doações nem sempre chega ao potiguar.
Para se ter um ideia, ao mesmo tempo que o estado não tem fila de pacientes aguardando por córneas, cerca de 40 fígados foram captados no estado e enviados para outros locais. O norte-riograndense que necessitar desse órgão (entre outros) precisa entrar nas filas de outros estados. Diante desse problema, uma solução: os hospitais privados voltarem a fazer cirurgias de transplante. Algumas unidades particulares, que há mais de três anos não realizam um procedimento desse tipo, apontam o valor do repasse do Sistema Único de Saúde (SUS) como o principal motivador da suspensão dos serviços.
"Não era para existir fila para transplante de córnea porque elas podem ser captadas até seis horas após o óbito", declarou o coordenador da Central de Transplante, Rodrigo Furtado. A frase do médico é para explicar como foi desenvolvido o trabalho na Central, ao ponto de zerar uma fila. De acordo com o coordenador, um trabalho de conscientização foi realizado junto aos servidores dos hospitais para que no momento da morte do paciente, a Central seja imediatamente avisada. O Instituto Técnico e Científico de Polícia (Itep) também entrou na lista de locais com possíveis doadores. A equipe multidisciplinar da Central passou a tentar captar córneas entrevistando os parentes das vítimas que chegavam ao órgão. O serviço social do Hospital Walfredo Gurgel acrescentou também no trabalho da Central, aprimorando o serviço de acolhimento familiar, o que resultou em doações.
Há um ano, existiam 180 pessoas esperando por uma doação de córnea. Apesar da fila sempre oscilar, no final de janeiro, a Central de Transplante chegou a não ter registros de espera. Mas infelizmente o sucesso da captação não se estendeu às doações de rim e medula óssea, atualmente com 80 e 130 pacientes nas filas respectivamente. Nas duas situações, além de precisar de um doador, o paciente precisa que ele seja compatível. A situação de quem precisa de um desses órgãos não é nada boa, mas no caso do Rio Grande do Norte, ainda é melhor quando se compara com quem necessita de um fígado ou coração. É que no Rio Grande do Norte são realizadas apenas as cirurgias de rim (Hospital Universitário Onofre Lopes), córnea (Prontoclínica de Olhos e Huol) e medula óssea (Natal Hospital Center). "Quem precisa de coração e fígado entre na fila do estado mais próximo", explicou Rodrigo.
Drama
Ana Cláudia Fonseca, 23 anos, sabe bem as dificuldades de quem precisar ir a outro estado tentar uma doação. Há mais ou menos dois anos ela descobriu que precisa de um novo fígado. Inchaço, palidez, manchas roxas, levaram a jovem a ser internada no Hospital Giselda Trigueiro e passar mais de dez dias sem diagnóstico. Foi no Hospital Onofre Lopes que Cláudia descobriu ser portadora de hepatite autoimune (HAI) e que precisaria de um transplante de fígado. Fortaleza foi a fila mais próxima e o local destinado para o tratamento foi o Hospital Universitário Walter Cantídio. O Estado ajudou nos custos da viagem por 11 dias para Cláudia e seu acompanhante, mas ao todo ela precisou fica por quatro meses na unidade.
"Quando eu melhorei, voltei para Natal. A médica de Fortaleza pediu para procurar um gastroenterologista", lembrou Cláudia. Nesse momento começou uma nova saga. Depois de precisar conseguir dinheiro para o seu tratamento, não ter recebido a doação, agora a nova luta seria uma consulta com o especialista. Ir ao médico aqui em Natal tornou-se um tormento. A primeira porta que Cláudia bater foi a do Huol. Na unidade foi informada que deveria marcar a consulta pelo posto de saúde do seu bairro. "No posto disseram que no sistema só tinha vaga dentro de três meses. Faz um ano e meio que estou tentando essa consulta e nada", reclama. A paciente, que toma medicamento de uso contínuo, não está usando alguns remédios por falta de receita, já que precisa recorrer à Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat). Algumas medicações Cláudia consegue por meio de ações contra o Estado impetradas na Justiça.
Cláudia poderia ter recebido, dependendo da sua compatibilidade, um dos 41 fígados captados no estado que foram para outros locais. De acordo com o Sistema Nacional de Transplante, o estado recebe o órgão doado conforme a fila de espera e também se ele realizar a cirurgia. O coordenador da Central reforça que o fato dos hospitais privados não estarem mais realizando os transplantes prejudica muito a situação dos pacientes do Rio Grande do Norte. Porém, o médico também reconhece que o custo de um paciente transplantado é muito alto para o hospital. Mesmo após o paciente receber alta da cirurgia de transplante, a unidade deve continuar atendendo aquela pessoa por muito tempo. "Em 2011 trabalhamos a captação. Este ano vamos trabalhar a transplantação. Estamos tendo algumas conversa com o Governo e estamos próximos de encontrar uma solução", disse Rodrigo sobre qual será o foco da Central de Transplantes para os próximos dias.
Para se ter um ideia, ao mesmo tempo que o estado não tem fila de pacientes aguardando por córneas, cerca de 40 fígados foram captados no estado e enviados para outros locais. O norte-riograndense que necessitar desse órgão (entre outros) precisa entrar nas filas de outros estados. Diante desse problema, uma solução: os hospitais privados voltarem a fazer cirurgias de transplante. Algumas unidades particulares, que há mais de três anos não realizam um procedimento desse tipo, apontam o valor do repasse do Sistema Único de Saúde (SUS) como o principal motivador da suspensão dos serviços.
"Não era para existir fila para transplante de córnea porque elas podem ser captadas até seis horas após o óbito", declarou o coordenador da Central de Transplante, Rodrigo Furtado. A frase do médico é para explicar como foi desenvolvido o trabalho na Central, ao ponto de zerar uma fila. De acordo com o coordenador, um trabalho de conscientização foi realizado junto aos servidores dos hospitais para que no momento da morte do paciente, a Central seja imediatamente avisada. O Instituto Técnico e Científico de Polícia (Itep) também entrou na lista de locais com possíveis doadores. A equipe multidisciplinar da Central passou a tentar captar córneas entrevistando os parentes das vítimas que chegavam ao órgão. O serviço social do Hospital Walfredo Gurgel acrescentou também no trabalho da Central, aprimorando o serviço de acolhimento familiar, o que resultou em doações.
Há um ano, existiam 180 pessoas esperando por uma doação de córnea. Apesar da fila sempre oscilar, no final de janeiro, a Central de Transplante chegou a não ter registros de espera. Mas infelizmente o sucesso da captação não se estendeu às doações de rim e medula óssea, atualmente com 80 e 130 pacientes nas filas respectivamente. Nas duas situações, além de precisar de um doador, o paciente precisa que ele seja compatível. A situação de quem precisa de um desses órgãos não é nada boa, mas no caso do Rio Grande do Norte, ainda é melhor quando se compara com quem necessita de um fígado ou coração. É que no Rio Grande do Norte são realizadas apenas as cirurgias de rim (Hospital Universitário Onofre Lopes), córnea (Prontoclínica de Olhos e Huol) e medula óssea (Natal Hospital Center). "Quem precisa de coração e fígado entre na fila do estado mais próximo", explicou Rodrigo.
Drama
Ana Cláudia Fonseca, 23 anos, sabe bem as dificuldades de quem precisar ir a outro estado tentar uma doação. Há mais ou menos dois anos ela descobriu que precisa de um novo fígado. Inchaço, palidez, manchas roxas, levaram a jovem a ser internada no Hospital Giselda Trigueiro e passar mais de dez dias sem diagnóstico. Foi no Hospital Onofre Lopes que Cláudia descobriu ser portadora de hepatite autoimune (HAI) e que precisaria de um transplante de fígado. Fortaleza foi a fila mais próxima e o local destinado para o tratamento foi o Hospital Universitário Walter Cantídio. O Estado ajudou nos custos da viagem por 11 dias para Cláudia e seu acompanhante, mas ao todo ela precisou fica por quatro meses na unidade.
"Quando eu melhorei, voltei para Natal. A médica de Fortaleza pediu para procurar um gastroenterologista", lembrou Cláudia. Nesse momento começou uma nova saga. Depois de precisar conseguir dinheiro para o seu tratamento, não ter recebido a doação, agora a nova luta seria uma consulta com o especialista. Ir ao médico aqui em Natal tornou-se um tormento. A primeira porta que Cláudia bater foi a do Huol. Na unidade foi informada que deveria marcar a consulta pelo posto de saúde do seu bairro. "No posto disseram que no sistema só tinha vaga dentro de três meses. Faz um ano e meio que estou tentando essa consulta e nada", reclama. A paciente, que toma medicamento de uso contínuo, não está usando alguns remédios por falta de receita, já que precisa recorrer à Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat). Algumas medicações Cláudia consegue por meio de ações contra o Estado impetradas na Justiça.
Cláudia poderia ter recebido, dependendo da sua compatibilidade, um dos 41 fígados captados no estado que foram para outros locais. De acordo com o Sistema Nacional de Transplante, o estado recebe o órgão doado conforme a fila de espera e também se ele realizar a cirurgia. O coordenador da Central reforça que o fato dos hospitais privados não estarem mais realizando os transplantes prejudica muito a situação dos pacientes do Rio Grande do Norte. Porém, o médico também reconhece que o custo de um paciente transplantado é muito alto para o hospital. Mesmo após o paciente receber alta da cirurgia de transplante, a unidade deve continuar atendendo aquela pessoa por muito tempo. "Em 2011 trabalhamos a captação. Este ano vamos trabalhar a transplantação. Estamos tendo algumas conversa com o Governo e estamos próximos de encontrar uma solução", disse Rodrigo sobre qual será o foco da Central de Transplantes para os próximos dias.
Fonte: Diário de Natal on line (12/02/2012) https://www.dnonline.com.br