Medicamentos impedem a progressão da leucemia

10/03/2012 01:15

Medicamentos impedem a progressão da leucemia


A leucemia mieloide crônica é caracterizada por uma anormalidade genética adquirida. A doença pode ser controlada com o uso contínuo de medicamentos e, muitas vezes, sem a necessidade de um transplante de medula óssea. 

Pesquisadores, como a professora Susan Branford, da Universidade de Adelaide, na Austrália, que investiga há anos as bases genéticas desse tipo de leucemia, já falam na possibilidade de cura da doença. Isso porque, com a utilização de medicamentos conhecidos como inibidores de tirosina quinase, a leucemia mieloide crônica, na maioria dos pacientes, fica indetectável por muitos anos e impede a progressão para a fase aguda, que é mais grave. 

A doença apresenta três fases: crônica, acelerada e blástica. Esta última é uma leucemia aguda, mais grave, e o tratamento é feito com o transplante de medula óssea, pois o paciente não responde mais aos medicamentos. Segundo a pesquisa recente de Susan, há 35 anos a sobrevida de um paciente portador da doença era de menos de 3 anos. Hoje, os pacientes apresentam melhora em 85% dos casos, em 8 anos, desde o diagnóstico. 

Celso Massumoto, hematologista e responsável técnico do transplante de medula óssea do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, diz que a incidência da leucemia mieloide crônica é de 1 para 10 mil. Corresponde a 15% de todas as leucemias. É mais comum em adultos do sexo masculino, a partir dos 50 anos. “A doença é uma proliferação, um crescimento anormal de glóbulos brancos”, explica. Segundo o especialista, a doença foi descoberta em 1960, na Filadélfia, quando pesquisadores observaram uma alteração no cromossomo, no DNA desses indivíduos. O cromossomo recebeu o nome de Ph. Anos depois, foi descoberto que esse cromossomo Ph existia por uma alteração entre dois cromossomos, chamados 9 e 22. Constatou-se, então, que o que causava a doença era a troca genética entre esses dois cromossomos. 

A leucemia mieloide crônica é diagnosticada por meio de três exames, segundo Massumoto. “O diagnóstico é feito pelo mielograma, que identifica uma medula que tem muitos glóbulos brancos. O cariótipo, que identifica o cromossomo Ph, e a análise molecular, que verifica a troca entre os cromossosmos 9 e 22”, explica. Em geral, segundo o médico, os sintomas da doença são cansaço e fadiga. Também pode apresentar palidez, devido à anemia, suor excessivo, perda de peso e intolerância a temperaturas mais altas. 

Mal controlado por mais tempo
De acordo com o hematologista Celso Massumoto, em 1990, foi descoberto um remédio que fazia com que a troca entre os cromossomos fosse revertida e, com isso, conseguiu-se que esse cromossomo Ph não existisse mais. “Muitos pacientes, a partir da década de 1990, começaram a tomar esse medicamento, chamado imatinibe, e têm conseguido controlar a doença muito bem”, explica. 

A médica Ana Lúcia Cornacchione, membro do comitê científico da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia, a Abrale, diz que esses medicamentos, conhecidos também como inibidores de tirosina quinase, não são considerados quimioterapia e permitem que a doença seja controlada por um longo período, dispensando o transplante. “Depende muito do paciente e como ele responde ao tratamento, mas a maioria dispensa o transplante de medula óssea”, diz. 

Para a especialista, ainda é cedo para falar na cura total da doença, já que o tratamento com esses medicamentos são usados apenas há 10 ou 15 anos, o que para a medicina é considerado pouco tempo. “A gente já pode dizer que 90% dos pacientes ficam com a doença controlada, sem nenhum sintoma dessa doença, vivem muito bem e podem voltar a trabalhar normalmente. É um avanço enorme.”A médica da Abrale diz que todo o tratamento é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde. “O SUS oferece essa medicação aos pacientes, assim como todos os outros tratamentos oncológicos”, diz. 

Massumoto explica que, antigamente, o transplante era o primeiro tratamento. Hoje, com essa nova medicação, é administrado primeiro o remédio e, depois, se o paciente não responder bem ao tratamento, é feito o transplante de medula óssea. Os medicamentos podem ainda não trazer a cura, mas segundo o médicos têm pacientes que tomam há mais de 10 anos, 15 anos e a doença não voltou. “Com isso, existe uma suspeita de que talvez possa um dia curar essa doença. Porque como fica muito tempo sem se manifestar, pode possivelmente representar a cura”, explica. Assim como todos os medicamentos, o imatinibe apresenta efeitos colaterais – neste caso, inchaço no corpo e nas pálpebras e náusea. 


Fonte: Diarioweb  / www.abrale.org.br


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