Doações de órgãos seguem a passos curtos em Minas

17/03/2012 18:22

 

Doações de órgãos seguem a passos curtos em Minas

Paola Carvalho - Estado de Minas

 

Vilma Moreira recebeu um rim do marido, Ronaldo, mas seu organismo rejeitou o novo órgão e ela teve de voltar à fila de transplantes (GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)  
Vilma Moreira recebeu um rim do marido, Ronaldo, mas seu organismo rejeitou o novo órgão e ela teve de voltar à fila de transplantes


A busca incansável por um órgão é o que norteia a vida da dona de casa Vilma Rodrigues Moreira, de 47 anos, e de milhares de mineiros. Quando ela descobriu a insuficiência renal, já havia perdido um rim e parte do outro. Para pôr fim à agonia, depois de dois anos na fila, foi o marido, Ronaldo Moreira Marinho, de 46, quem fez a doação. Mas não deu certo e, para sua tristeza e de toda a família, teve de voltar à fila. Já são outros dois anos de espera e de batalha incessante. Todos os dias o casal chega à Santa Casa de Belo Horizonte às 7h30 e só sai às 18h30, depois de diálise peritoneal (pela barriga), já que as veias não suportam mais o tratamento. “Não tem prazo, mas tenho esperança. Não vejo a hora de poder viver”, desabafa. Minas Gerais sofre na fila de transplantes. O número de doações efetivadas está abaixo da média brasileira e coloca o estado na nona posição no ranking nacional, de acordo com registros da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).

Foram 9,8 doadores efetivos por grupo de 1 milhão de habitantes em Minas, no ano passado, enquanto o país registrou 10,7. O estado está atrás de Santa Catarina, São Paulo, Ceará, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Paraná e Espírito Santo. Embora a taxa mineira tenha crescido em relação ao ano anterior, quando atingiu 8, o resultado é “fraco” na opinião do presidente da Associação Beneficente Pró-Transplante de Minas, André Barreto. Para ele, o principal problema está na captação. “As comissões intra-hospitalares de doação de órgãos e tecidos para transplantes (Cihdotts) não funcionam como deveriam em Minas, ao contrário de São Paulo e Santa Catarina, que são exemplos”, avalia. 

Barreto destaca que o problema não é a família não querer doar os órgãos de um parente que morreu, mas a falta de profissionais de saúde para identificar o potencial doador e informar ao MG Transplantes – o centro de notificação, captação e distribuição de órgãos do estado, ligado à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). “São Paulo e Santa Catarina tiveram força política suficiente para conseguir mudar a estrutura”, disse. Para ele, como Minas tem grande extensão territorial, cada região deveria ter uma central. “As atuações em Juiz de Fora, no Triângulo Mineiro e no Sul de Minas, por exemplo, são muito tímidas”, afirma. 

No caso do rim, o número de transplantes em 2011 foi de 25,6 por um milhão de pessoas no estado. De acordo com a ABTO, 501 pessoas fizeram transplante do órgão. Em número absoluto, Minas estaria no segundo lugar do ranking, atrás somente de São Paulo, com 2.010 procedimentos. Mas quando levada em consideração a taxa por grupo de um milhão de habitantes, uma medida adotada internacionalmente, Minas cai para o sexto lugar, com taxa de 25,6, praticamente a metade do desempenho paulista (48,7). Barreto calcula que, se Minas alcançasse o patamar de São Paulo, seria o suficiente para zerar a fila de pacientes da Santa Casa, referência no tratamento, e que hoje conta com cerca de 450 pacientes, sendo de 30% a 40% com condições clínicas de receber o órgão. 

Muitos obstáculos

O coordenador do MG Transplantes, Omar Lopes Cançado Júnior, admite que Minas enfrenta obstáculos para alcançar melhores resultados. Segundo ele, são três as causas do problema: diversidade socioeconômica, questão geográfica e número pequeno de leitos de centro de terapia intensiva (CTI) e/ou unidade de terapia intensiva (UTI) na assistência básica de saúde do interior do estado. Ele frisa que a taxa vem aumentando gradativamente e deve dar uma guinada a partir deste ano, em razão da possível criação de 10 organizações de procura de órgãos (OPO), com recursos já previstos pela Secretaria de Estado de Saúde. 

“A gente também sabe que há problemas na atuação efetiva das Cihdotts”, afirma. Segundo ele, as comissões intra-hospitalares não foram constituídas em todos os estabelecimento de saúde com mais de 80 leitos, onde deveriam existir por força de lei. “As Opos contribuirão para aumentar o número de notificações, captação e distribuição de órgãos. Queríamos que houvesse mais equipes, mas isso depende de cada hospital. Depende da vontade deles em se credenciar no Ministério da Saúde e é difícil pressioná-los”, acrescentou. Segundo o coordenador do MG Transplantes, em todo o estado são sete equipes para transplante de fígado, uma para pulmão, duas para rim/pâncreas, 14 para rim e duas para coração.