AMIB lança diretrizes para manutenção do potencial doador de órgãos
Dados de 2010 apontam que mais de 18% dos potenciais doadores foram perdidos no processo de manutenção dos órgãos.
Segundo dados de 2010 do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), do total de 6979 potenciais doadores de órgãos, 1279, ou seja, 18,3% foram perdidos na fase da manutenção do potencial doador. Esse percentual só fica abaixo dos 25,8%, que não tiveram a doação autorizada pela família.
A Associação de Medicina Intensiva Brasileira - AMIB está lançando a terceira edição da campanha nacional "Orgulho de Ser Intensivista", que tem como tema a Doação de Órgãos e como chamada principal "A Doação de Órgãos Começa na UTI".
Um dos destaques da campanha deste ano é o lançamento das Diretrizes para Manutenção de Múltiplos Órgãos no Potencial Doador Falecido (Adulto), documento inédito no país e com semelhantes somente no Canadá e em alguns países da Europa, e que vai ajudar o médico intensivista numa das fases mais desafiadoras do processo de Doação de Órgãos: a Manutenção do Potencial Doador.
As Diretrizes da AMIB apresentam também uma série de esclarecimentos que serão fundamentais para auxiliar o intensivista e sua equipe na manutenção do potencial doador falecido de órgãos a partir do diagnóstico da morte encefálica e abordagem da Ventilação Mecânica, Controle Endócrino Metabólico e Aspectos Hematológico e Infecciosos.
A elaboração das Diretrizes, fruto da parceria entre AMIB e ABTO, se deu a partir do acompanhamento de estatísticas que demonstram que uma grande parte dos órgãos é justamente perdida no processo de manutenção. Além disso, há índices que revelam que o processo de identificação da morte encefálica e abordagem com a família são fundamentais e, muitas vezes, o tempo para tais etapas não é respeitado.
As Diretrizes, que foram redigidas em forma de perguntas e respostas, estão sendo distribuídas aos médicos de todo o país e pretendem contribuir para uniformizar os cuidados prestados ao doador falecido e incrementar quantitativamente e qualitativamente o transplante de órgãos com medidas aplicáveis à realidade brasileira.
O documento ainda traz as Recomendações Órgãos-Específicas para a manutenção renal, pulmonar, cardíaca e hepática, destacando as medidas para preservação do órgão, avaliação das principais funções, cuidados essenciais para garantir a transplantabilidade e contra-indicações que podem inviabilizar o transplante.
Para facilitar a compreensão e implantação das informações, os autores das diretrizes classificaram (de acordo com o sistema Grades of Recommendation Assessment, Development and Evaluation) a qualidade das recomendações como:
FORTE - deve ser feito
FRACA - talvez deva ser feito
NÃO ESPECÍFICA - não há vantagens e nem desvantagens
As Diretrizes pretendem atender a uma necessidade do intensivista, que até agora, não contava com uma fonte onde estivessem concentradas todas as informações sobre a manutenção do doador de órgãos contemplando a realidade brasileira.
"Distribuiremos as Diretrizes nas UTIs de todo Brasil e também deixaremos o material disponível para download no site da campanha. Queremos democratizar a informação e auxiliar os médicos intensivistas brasileiros nessa importante etapa, que é a Manutenção do Potencial Doador de Órgãos", explica o Dr. Glauco Westhal, um dos autores das Diretrizes.
A campanha nacional da AMIB ainda contará com dois materiais informativos direcionados às famílias. O primeiro focado na família do paciente internado numa UTI, independente da causa da internação e gravidade do caso. O segundo é direcionado a família do potencial doador de órgãos, que é aquele que já teve o diagnóstico da morte encefálica.
"No material desenvolvido para as famílias tivemos a preocupação de usar uma linguagem simples e didática, sempre com o intuito de esclarecer o passo a passo do processo de doação e transplante de órgãos e, principalmente sobre a morte encefálica, tema ainda pouco compreendido pela população", diz o Dr. Fernando Osni Machado, responsável pela edição 2011 da campanha.
A terceira edição da campanha Orgulho de Ser Intensivista acontece em todo Brasil e terá duração de seis meses. A campanha, iniciativa da AMIB, tem o apoio do Ministério da Saúde (MS), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Sistema Nacional de Transplante (SNT).